segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Já se dizia no Império...

A Constituição [do Império] devia ser como as azas de um anjo, a cuja sombra se acolhessem sempre todos os brasileiros; é, porém uma espécie de chapéu de chuva, que os ministros trazem aberto ou fechado, conforme o tempo que faz; (...) devia ser uma virgem formosa, de quem os ministros e magistrados da nação fossem amantes apaixonados; mas é pelo contrário uma velha, pobre e coberta de cicatrizes, de quem eles se riem e zombam constantemente; (...) devia ser um objeto sagrado, no qual nenhuma mão sacrílega tocasse sem que ficasse mirrada; e é como a terra aurífera, que vê enriquecerem-se e engrandecerem-se aqueles cujas mãos mais lhe rasgam o seio e as entranhas; (...) devia ser um escudo encantado, um asilo seguro para o inocente perseguido pela prepotência ou pelo poder do opressor, e é como uma casa sem portas, onde ninguém se julga livre de ser agarrado; por mais que um pobre homem se apadrinhe muito em regra com o mais claro e positivo de seus artigos, qualquer beleguim lhe põe a mão em cima.

De Joaquim Manoel de Macedo, em A Carteira do Meu Tio, com homenagem ao prof. Luis Fernando Lopes Pereira.

Nenhum comentário: