domingo, 24 de outubro de 2010

Paixão, imparcialidade e tolerância

Futebol envolve paixão e um alto grau de irracionalidade - algo muito próximo das posições "políticas" neste segundo turno. E, neste âmbito como naquele, a tolerância dos envolvidos depende da imparcialidade daqueles que ficam "no meio de campo", entre os dois lados.

Fui ver Atlético e Fluminense na Arena da Baixada. E logo nos primeiros minutos percebi que o jogo seria absolutamente irritante. O árbitro da partida e seus auxiliares pareciam determinados a marcar todos os lances em favor do time carioca. A lógica intrínseca do mercado da bola parece ditar todas as decisões em prol das equipes do eixo Rio-São Paulo. Essa postura da arbitragem faz com que os times fiquem mais nervosos, que as disputas de bola fiquem mais acirradas e que a torcida fique a ponto de bala. A absoluta falta de imparcialidade daquele que deve fazer observar as regras do jogo provoca nos apaixonados torcedores uma sensação de estar sofrendo uma grande injustiça, o que acaba levando à intolerância.

Na discussão política em torno do segundo turno destas eleições, a irracionalidade também é a marca. O esvaziamento do debate político em termos morais ou religiosos desloca o centro das discussões e os argumentos sobre a visão de Estado, sobre os programas de governo, sobre as políticas públicas, são substituídos por palavras de ordem e slogans retóricos, como os gritos das torcidas.

Além disso, a disputa eleitoral tampouco tem encontrado atores neutros que zelem pela observância das regras do jogo democrático. As decisões judiciais foram determinantes para que a disputa no Paraná fosse decidida no primeiro turno. Em âmbito nacional. a atuação da Procuradoria Eleitoral tem suscitados críticas pela utilização de diferentes pesos e medidas. Mas um Estado Democrático também se faz com uma imprensa livre e independente, que cumpra sua função social de informar o cidadão. E esse, na minha visão, é o calcanhar de Aquiles da democracia brasileira nesses dias.

As grandes empresas de comunicação se tornaram grandes agências de propaganda nesta campanha. A propaganda eleitoral quase se confunde com a cobertura pretensamente jornalística, com direito, nos últimos dias antes da eleição, a manipulação de imagens e opiniões de peritos. Uma atuação orquestrada entre diversos órgãos, com a escolha dos temas e com o silêncio absoluto sobre outros, quebrado, fracamente, pela liberdade da internet.

Essa irresponsabilidade absoluta, ao arrepio da democracia e do princípio republicano, provoca as paixões e acirra a irracionalidade da disputa. Os dois lados se armam não apenas de argumentos, e a arena política começa a perder espaço para trucagens e difamações. E a torcida acompanha esse movimento, com uma forte diminuição da tolerância.

Com árbitros assim, o que nos resta é torcer para que o jogo termine logo.

Um comentário:

Anônimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=OylBqN7LdS4&sns=em