segunda-feira, 15 de março de 2010

A Constituição da sociedade

Parte dos juristas e dos políticos ainda afirmam a ilegitimidade da Constituição de 1988, seja em face de sua elaboração por um congresso constituinte, com a participação de senadores biônicos, seja por seu texto um tanto quanto "esquizofrênico". Não estou entre eles. A participação popular na Constituinte foi intensa. E o texto é pluralista, e não contraditório.
Essa Constituição traz uma série de valores, e pretende constituir uma comunidade política a partir do seu compartilhamento. E é aqui, me parece, que a Constituição está como uma idéia fora do lugar...
O texto constitucional é pretensioso demais para a sociedade brasileira. Não é fácil para mim admitir isso - otimista convicta e crente na força normativa da Constituição. Mas o péssimo hábito de ler os comentários dos cidadãos às notícias na internet tem me mostrado que ao menos a parcela da sociedade que se manifesta nesses fóruns cibernéticos não merece a Constituição que tem.
Ora defendendo um Estado leniente, ora um governo totalitário, frequentemente desejando o sangue dos homens "maus" (e o que entra nessa categoria é extremamente variável...), quase sempre com um desprezo pelos demais cidadãos e pela classe política, esses comentários mostram que o projeto constitucional, mais do que as barreiras econômicas, precisa vencer obstáculos morais. Não dá para construir uma sociedade livre, justa e solidária com cidadãos que têm como máxima "se o fubá é pouco, meu pirão primeiro".

Nenhum comentário: